domingo, 28 de abril de 2013

"Encontrei hoje em ruas, separadamente, dois amigos meus que se haviam zangado um com o outro. Cada um me contou a narrativa por que se haviam zangado. Cada um me disse a verdade. Cada um me contou as suas razões. Ambos tinham toda a razão. Não era que um via uma coisa e o outro, outra, ou que um via um lado das coisas e outro um lado diferente. Não: cada um as via com critério idêntico o do outro, mas cada um via uma coisa diferente, e cada qual, portanto, tinha razão."


In: Livro do desassossego, Bernardo Soares (heterônimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Martha Medeiros - trechos de crônicas

       
       "Alguém lá tem certeza absoluta do que quer que seja? Somos todos novatos na vida, cada dia é uma incógnita, podemos ser surpreendidos pelas nossas próprias reações, repensamos mil vezes sobre os mais diversos temas: as ditas "certezas" apenas são escudos que nos protegem das mudanças. Mudar é difícil. Crescer é penoso. Olhar para dentro de si mesmo, profundamente, é sempre perturbador."

Os inimigos da verdade. 
In: Montanha-russa: crônicas. 2011

     

       "Fizeram a gente acreditar que cada uma de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido."

Sacanagem.
 In: Montanha-russa: crônicas. 2011